
O mercado de trabalho está concorrido hoje em dia e poucas pessoas que pensam em seguir uma carreira conseguem de fato realizar o sonho. Ruthe Alves Garcez é uma dessas poucas pessoas que conseguiram alcançar a autonomia do profissional liberal. Tem 48 anos e é uma advogada bem sucedida e reconhecida em Criciúma.
Desde pequena Ruthe prezava pelo justo, sempre quis fazer algo relacionado à justiça. Seu pai era militar e autoritário devido à profissão, por isso era muito rígido com os ela e seus sete irmãos em casa. “Ele era muito duro, não ouvia ninguém e ninguém podia se expressar. Eu achava muito injusto, sempre pensei que todos os lados em uma discussão devem ser ouvidos.”
Com essa idéia em mente, ela buscou trabalhar para pagar seus estudos. Aos 17 anos teve seu primeiro emprego na diagramação de um jornal local em Santiago, Rio Grande do Sul, sua cidade natal. Depois de um ano saiu do emprego e trabalhou como cozinheira em uma lanchonete, trabalhava o dia inteiro e estudava a noite. Ficou com essa rotina por dois anos até que perdeu o emprego e, sem dinheiro para continuar estudando, mudou-se para Santa Maria (RS) para morar com sua tia. “Santa Maria não tinha oportunidades de emprego, era – e ainda é - uma cidade universitária. Procurei emprego por dois anos, mas não consegui nada. Estava sem estudar nesse meio tempo.”
Em maio de 1984, Ruthe resolve visitar seus dois irmãos que moravam em Santa Catarina, um era militar e o outro estudante. “Criciúma na época era muito promissora, havia muitos empregos a disposição e eu consegui em menos de um mês um emprego como locutora na rodoviária.”, lembra ela. O emprego na rodoviária foi temporário, logo passou a trabalhar em uma loja de material de construção, da qual tirava mais lucro. Assim que se estabeleceu financeiramente, retomou os estudos e continuou seguindo seu sonho.
No ano de 1985, estando a apenas um ano na cidade, recebeu um convite do assessor jurídico, seu companheiro na época, para trabalhar na assessoria jurídica do sindicato dos mineiros. Trabalhou no sindicato durante três anos, enquanto ainda cursava o segundo grau. Sua história de luta pelo justo se revelava mais a cada ano que passava. No segundo grau lutou para transformar o então centro cívico em grêmio estudantil, para que estudantes tivessem mais voz e direitos dentro do colégio. Participou do movimento estudantil e apoiou muitas greves também nessa época.
Quando estava estabilizada trabalhando em um escritório de advocacia e pronta para enfrentar um cursinho pré-vestibular, em 1987, engravidou. A gravidez não a fez desistir de seus sonhos. “Minha filha foi meu maior incentivo para continuar batalhando.” Não conseguindo passar no vestibular nesse primeiro momento, Ruthe fez um concurso para oficial de justiça e passou; mesmo assim continuou trabalhando no escritório e tentando passar no vestibular para direito ou contabilidade. Como direito era um curso muito concorrido naquela época, passou para contabilidade e cursou até a 5ª fase, ou seja, até descobrir que não era o que queria para sua vida.
Retornando ao cursinho em 1994, mesmo com filho e trabalho, conseguiu finalmente passar para direito. “Nunca tive chance de estudar em um bom colégio, fiz supletivo e não tinha aprendido muito, mas estudando no cursinho consegui passar.” Sua carreira como acadêmica do curso de direito era difícil, trabalhava no escritório de advocacia pela manha, pela tarde em Içara como oficial de justiça e a noite ia para Araranguá para cursar a faculdade. Além disso, no sábado fazia uma matéria da faculdade em Tubarão.
No escritório onde trabalhava não existia computador, todas as ações eram digitadas por ela em uma máquina Línea 98. O período em que trabalhou nesse escritório foi como um estágio não remunerado. Adquiriu experiência, mas nada de lucros; os lucros vinham do trabalho no fórum em Içara. Abandonou o emprego do fórum em 1997 e trabalhou no escritório de advocacia até 1999, ano em que se formou na faculdade.
No dia 1º de abril de 2000 conseguiu abrir seu próprio escritório com a ajuda de cinco amigos. No escritório havia apenas um laptop, uma impressora achada no lixo, móveis e telefone emprestados e até o próprio local era emprestado. Hoje em dia ela tem seu próprio local de trabalho e está bem estabelecida financeiramente. “Apesar de não acreditar no judiciário e nas leis, eu ainda acredito na justiça. Entre a lei e a justiça eu fico com a justiça.”
Letícia Garcez Costa